É
possível que exista vida extraterrestre nesse sistema solar com um monte de
planetas do tamanho da Terra
Feb 22
2017, 4:58pm
Os sete planetas recém-descobertos pela NASA são
nossa melhor aposta para encontrar novas formas de vida.
Uma estrela a 39-anos luz de distância da Terra —
um passinho em termos cósmicos — abriga sete planetas do tamanho do nosso, de
acordo com pesquisa publicada há pouco na revista
Nature. Mas isso não é o principal: os astrônomos
responsáveis dizem que pelo menos seis desses corpos celestes aparentam ser
rochosos, de clima temperado, e alguns podem até mesmo ter água em formato
líquido na superfície. Indo direto ao ponto: sim, eles podem ter os
ingredientes certos para a vida.
"É a primeira vez que tantos
planetas deste tipo são encontrados em torno da mesma estrela", afirma o
principal autor do estudo, Michaël Gillon, astrônomo da Université de Liège, na
Bélgica, em conversa com jornalistas antecipando o anúncio na terça-feira.
"Este sistema provavelmente é a melhor aposta hoje para se buscar vida
fora da Terra", disse o co-autor Brice-Olivier Demory, da Universidade de
Berna, na Suíça, em release que acompanhava a notícia.
Infográfico mostra possível
organização dos sete planetas de TRAPPIST-1 ao lado de planetas rochosos em
nosso sistema solar. Crédito: NASA
O sistema solar recém-descoberto
tem algumas diferenças significativas em relação ao nosso.
Sua estrela principal, TRAPPIST-1, é o que se chama de anã vermelha "super
fria", com 8% da massa do nosso Sol e 11% de seu raio. Os sete planetas
orbitam bem próximo da estrela: todos ficam a mais ou menos na distância da
órbita de Mercúrio.
A maioria também tem acoplamento
de maré, de forma que um lado sempre está virado para a estrela e o outro vive
uma noite eterna, o que fez com que pesquisadores comparassem com as luas de
Júpiter, que passam pela mesma situação com o planeta.
Ao tentar identificar se um
exoplaneta (qualquer planeta fora de nosso sistema solar) é habitável, os
cientistas buscam por algumas características, incluindo a produção de energia
de sua estrela, bem como distância orbital. Estes dados ajudam a determinar se
a temperatura de superfície fica em uma amplitude relativamente temperada, de 0
a 100 graus, de forma que água possa existir em sua forma líquida.
Ilustração
do sistema TRAPPIST-1. Crédito: NASA
De acordo com Gillon, este
sistema solar traz bons candidatos. Apesar dos planetas serem tão próximos da
estrela, a TRAPPIST-1 é "tão pequena e gelada [que os planetas] são
temperados, o que significa que podem ter água líquida na superfície",
disse.
As medidas de massa dos planetas,
ainda que preliminares, indicam que estes são rochosos, outro bom sinal visto
que não existem formas de vida conhecidas que poderiam sobreviver em um gigante
gasoso como Júpiter. Determinou-se ainda que a estrela não é lá muito ativa e
que explosões solares são raras, outro fator que contribui para que estes
planetas abriguem vida.
Como este sistema está
relativamente próximo da Terra, cientistas
já puderam ter alguma noção das atmosferas de seus planetas. Estudos
posteriores darão ainda mais pistas de sua habitabilidade.
Digno de nota também é o fato de
que todos os planetas são ideais para um tipo de observação detalhada que
entrará em curso nos próximos anos. Já que a estrela emite maior parte de sua
energia como luz infravermelha, o telescópio espacial James Webb – que
observa o espectro infravermelho – será perfeito para estudar os detalhes
destes planetas recém-descobertos quando for lançado, em 2018.
"É verdade que uma estrela
dessas é muito fraca na [luz] ótica, mas esta assinatura que buscamos pode ser
observada no infravermelho", disse Gillon.
Ilustração
da vista de um planeta no sistema TRAPPIST-1. Crédito: ESO/M.
Kornmesser/spaceengine.org
Cientistas estão esperançosos de
que futuras missões (como a do telescópio James Webb) também sejam capazes de
detectar ozônio em quaisquer das possíveis atmosferas, o que poderia indicar
atividade biológica.
A estrela TRAPPIST-1 recebeu este
nome por conta do projeto de telescópio robótico usado para descobrí-la. O
TRAPPIST (sigla para Telescópio
Pequeno para Planetas em Trânsito e Planetésimos) usa
fotometria de trânsito para detectar planetas em outros sistemas solares, ou
seja, ele analisa a queda na luz de uma estrela quando um planeta passa na sua
frente.
Uma
animação de planetas em órbita do TRAPPIST-1. Crédito: ESO/L.
Calçada/spaceengine.org
Controlado remotamente por uma equipe belga, o
primeiro estágio do sistema telescópico foi construído nas montanhas chilenas,
mais precisamente no Observatório de La
Silla. Agora,
com novas instalações no Marrocos, sua área de observação aumentou. "Temos
acesso a todo o céu, norte e sul para buscar estes planetas", afirmou
Emannuël Jehin, co-autor da pesquisa.
As descobertas da equipe do TRAPPIST foram
confirmadas pelo Grande Telescópio do Observatório Sul-Europeu, bem como
observatórios nas Ilhas Canárias e África do Sul.
O sistema estelar TRAPPIST-1 também ganhou as
manchetes no ano passado com o anúncio de três exoplanetas em
órbita.
Observando melhor, um raro trânsito triplo foi detectado, sugerindo que há mais
mundos além destes três a serem descobertos.
Nosso Sol
comparado à TRAPPIST-1, estrela menor e avermelhada. Crédito: ESO
Mas e quanto às expedições até
lá? Bem, visitar estes planetas num futuro próximo é impossível, por mais que
seja um destino interessante para o Project
Starshot,
iniciativa pioneira em viagens interestelares. Se a humanidade conseguir ir tão
longe, de acordo com o co-autor da pesquisa Amaury Triaud, os viajantes veriam
um céu com um sol carmesim ou "salmonado".
"Seria um lindo espetáculo,
já que poderíamos ver planetas talvez duas vezes maiores que a Lua, dependendo
do planeta em que se está e qual se observa", disse Triaud. Quem sabe um
dia, né?
Tradução:
Thiago "Índio" Silva
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