Ensino
médio tem que fazer sentido para o jovem, diz presidente do Consed.
Exclusiva:
Especialmente em Parauapebas, as autoridades precisam assumir o enorme problema
do ensino médio local. Com tantos recursos nossa juventude ficar sem aulas,
escolas ou professores. Precisamos mobilizar para mudar a situação.
cena de protesto de alunos em Parauapebas, onde praticamente nao existe ensino medio. |
Mariana
Tokarnia - Enviada Especial da Agência Brasil*
O ensino médio é considerado um dos grandes
gargalos da educação brasileira. A etapa, que tem três anos de duração,
concentra altos índices de evasão escolar e baixo desempenho nas avaliações
nacionais. Neste final de semana, o Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed) reuniu-se, em Manaus, para debater mudanças.
O presidente do Consed, Eduardo Deschamps, que é
secretário de Educação de Santa Catarina, conversou com a Agência Brasil.
Segundo ele, um dos problemas é que os alunos são preparados para o ensino
superior, mesmo que a maioria nunca ingresse em uma universidade. Ele defende
menos conteúdo obrigatório no ensino médio e mais tempo para que o aluno
escolha o que quer aprender. Com isso, o próprio Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) deve ser reformulado.
Ele aposta na Base Nacional Comum Curricular, que
está em fase de consulta pública, para a definição do conteúdo básico a ser
aprendido. As novas tecnologias também devem ajudar no ensino. "Vai ter
uma grande revolução por conta do smartphone", diz.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Agência Brasil: No que é preciso focar para de fato transformar o
ensino médio?
Saiba Mais
- Secretários de educação defendem conteúdo obrigatório mínimo para o ensino médio
- Tecnologia leva ensino a comunidades isoladas do Amazonas
Eduardo Deschamps: O ensino
médio no Brasil é tratado quase como uma etapa de passagem do ensino básico
para a universidade, a gente tem praticamente um currículo único no Brasil que
é ditado hoje pelo Enem. Quando olhamos os dados estatísticos, você vê que
menos de 30% dos jovens entre 18 e 24 anos estão na universidade. Significa
dizer que mais de 70% não vão seguir esse caminho. O Brasil precisa alinhar o
ensino médio com o que é feito no mundo. O mundo não tem um [currículo] padrão.
Por isso que a gente fala muito da flexibilização, da diversificação do ensino
médio, permitindo percursos formativos diferentes. Tem que fazer mais sentido
para o jovem.
Agência Brasil: As redes de ensino hoje têm condição de oferecer
aos jovens essa diversificação?
Deschamps: Acho que tem que ter um processo de adaptação das
redes, quer sob o ponto de vista administrativo, quer sob o ponto de vista de
formação dos professores. Mas essa adaptação só vai acontecer quando a gente
tiver o conceito de ensino médio que a gente quer preparar. Há várias maneiras
que o ensino médio é tratado no mundo. Tem modelos que estão sendo focados na
educação profissional, já com uma integração, inclusive com o sistema de
trabalho, têm sistemas que vocacionam escolas, com escolas muito boas na área
de artes, ou na área de educação profissional, têm sistemas que permitem vários
percursos dentro de uma mesma escola. Há experiências de todos os tipos no
Brasil nas redes estaduais, mas essas experiências são muito fragmentadas e
pequenas.
Agência Brasil: De que forma a tecnologia deve ser usada no ensino
médio?
Deschamps: Estávamos discutindo com o governo federal a
questão da conectividade. Eles diziam: "Digam o que vocês querem que a
gente leva a banda larga de acordo com a demanda que vocês têm". Não é
assim que vai funcionar. Eu falei o contrário: "Entregue a melhor banda
larga que puder entregar na porta da escola que a escola vai se organizar para
isso". Vai ter uma grande revolução por conta do smartphone. A
maioria dos alunos já tem alguma conectividade de rede, mesmo que seja um
pacote barato no smartphone mesmo em áreas de vulnerabilidade social
maior. A partir daí, você começa a mudar a lógica de que é necessariamente a
escola que deve entregar o equipamento para o aluno. A escola deve se preparar
para o equipamento que o aluno tem e pensar de que maneira vai utilizar isso na
sala de aula.
Agência Brasil: E que espaço tem o Enem nessa conjuntura?
Deschamps: Tem muita gente tratando o Enem de maneira
diferente, para vários objetivos. Eu acho isso muito preocupante. Utiliza-se o
Enem para ingresso no ensino superior, para avaliação da escola - quando se
começa a divulgar o Enem por escola - e para certificação de alunos que
eventualmente não tenham terminado o ensino médio. Coloca-se no Enem uma carga
que eu não sei se a prova está preparada para isso. Eu acho que o Enem precisa
de reformulação, não da mais para tratar o Enem da forma que vem sendo tratado
e para os fins que é utilizado. Nesse aspecto, fortalecer muito a Base Nacional
Comum Curricular e trabalhar com um projeto de lei do ensino médio na lógica da
flexibilização, certamente vai levar a mudanças do Enem também.
* A repórter viajou a convite do Consed
Edição: Carolina
Pimentel
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