Desemprego e dívidas devem impedir aceleração da
inflação
Marcello
Casal Jr/ABr
Desemprego:
situação de parte dos brasileiros deve impedir que aumento de preços continue
André
Ítalo Rocha, do Estadão
Conteúdo
São Paulo -- O aumento do consumo
no Brasil, que deverá vir quando a economia apresentar seus primeiros sinais de
melhora, será insuficiente para interromper a trajetória de desaceleração da inflação.
Segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real
do Grupo Estado, fatores que ainda comprometem a renda do brasileiro, como o
desemprego e o endividamento devem retardar o avanço da demanda, impedindo os
empresários de elevar os preços para recuperar prejuízos registrados durante a
crise.
Desde que o dólar
começou a se valorizar e a tarifa de energia elétrica ficou mais cara, em 2015, a
indústria tem sofrido com o aumento dos custos de produção. O repasse ao preço,
no entanto, esbarrou na queda da demanda dos consumidores. As empresas, como resultado,
tiveram de reduzir seus lucros. Outras, em situação mais delicada, fecharam as
portas ou fizeram pedidos de recuperação judicial. As que sobreviveram, agora,
estão na expectativa de que a economia se recupere, para que possam correr
atrás do tempo perdido e voltar a ter lucros mais confortáveis.
Se a recuperação se confirmar, as
empresas poderão ficar tentadas a subir o preço ao primeiro sinal de melhora da
demanda, mas, segundo economistas, enquanto a taxa de desemprego estiver alta,
a demanda seguirá baixa. "Embora haja sinais de início de recuperação da
economia, ela será muito tímida e não conseguirá reduzir o desemprego no curto
prazo", afirma Thiago Curado, da 4E Consultoria. Na sua avaliação, a taxa
de desocupação deve terminar 2016 com uma média de 12,1%, subindo para 13,6% no
ano que vem. "Então, até 2018, será limitada a capacidade das empresas de
repassarem maiores aumentos de preços", disse.
O economista André Braz, pesquisador
do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
chama a atenção também para o baixo nível de poupança dos brasileiros, que
ficou ainda menor após a crise econômica. "Estamos vivendo um período de
'despoupança' enorme", observou Braz. "As reservas que foram
construídas estão sendo retiradas pelas pessoas que estão passando por esse
período de turbulência, principalmente aqueles que perderam o emprego",
afirmou o pesquisador do Ibre. Com a poupança comprometida, os brasileiros não
teriam folga para voltar a consumir como antes.
Para ele, quando o mercado de
trabalho melhorar, o primeiro passo do consumidor será pagar as dívidas em
atraso, para só então recompor as reservas. "Não vai haver espaço para
aquecimento abrupto da demanda, ela vai se aquecendo lentamente", prevê o
economista. No primeiro semestre de 2016, a retirada líquida da poupança
alcançou R$ 42,606 bilhões, o maior volume da série histórica do Banco Central
(BC) iniciada em janeiro de 1995 (21 anos). Até então, a primeira metade de
2015 era a responsável pelo pior resultado, com um volume de saques R$ 38,542
bilhões superior ao de depósitos.
Embora não ofereça riscos para a
inflação no curto prazo, a tentação das empresas em subir os preços deverá
dificultar a tarefa do BC em levar a inflação para o centro da meta em 2017, de
4,5%, alerta o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. Para ele, já há
uma dificuldade de alcançar o centro da meta em razão da inércia inflacionária
que refletirá os reajustes aplicados este ano. A tentativa das empresas de
recuperar margens de lucro, portanto, será um fator a mais. A expectativa da RC
é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 6% no ano que
vem, depois de atingir 7,4% em 2016.
Na avaliação de Caparoz, os
preços devem ser elevados principalmente pelos setores de serviços e comércio,
que são compostos, em sua maior parte, por empresas pequenas e médias. Por
serem de menor porte, diz o economista, sofrem mais com a crise e são mais
sensíveis às relações de demanda e oferta. "Elas têm uma capacidade menor
de diferenciar seus produtos pela qualidade, então, subir o preço torna-se a
única saída para recuperar suas margens", afirmou. Empresas de maior
porte, ele compara, podem apostar mais em aumento da qualidade e elevar suas
vendas com base nisso.